quarta-feira, 1 de setembro de 2010

pássaros me ensinam uma lição

Tem dias que a gente acorda achando tudo muito difícil, ainda mais com o som,  nada melódico, de uma máquina de cortar grama. Na verdade, a noite já começa com aquele ar de dificuldade, aí já viu, rola pra lá, rola pra cá.
Fico pensando porque temos essa tendência em achar dificuldades em tudo? Quando buscamos o contentamento verdadeiro, que vem do coração, achamos muitas respostas. A mente é um macaco bêbado picado por um escorpião, sofremos uma ilusão, que nos prende a esse estado denso, material. E tudo que buscamos na vida mundana tem expectativa no material, no acúmulo, na imagem, do externo.
De repente, eu percebi que até minha busca espiritual estava virando uma busca material, cheia de ansiedade, culpa, cobrança, apego, expectativa.
Como é bom e alegre lembrarmos da vida!
Buscando pela vida, muitas vezes nos esquecemos que ela está em nossas mãos, na ponta do nosso nariz, dançando na nossa frente, e muitas vezes nem demos bola.
Se antes eu era presa por uma idéia de vida com sucesso profissional, bens materiais, pessoas me reconhecendo, agora eu estou presa por uma idéia da liberdade. Não é fácil.
Talvez muitos aspirantes espirituais passam por isso, por esse paradoxo.

Mas essa manhã Deus me presenteou com a vida pura e simples. Tomando café e olhando pela janela, de repente vi um passarinhho azul saindo de dentro do telhado do prédio da frente. Não é só um, são dois. O primeiro saiu voando e o segundo ficou na "porta de casa" só olhando e cantando. Como quem diz, "boa caça,vai com cuidado". Mas é claro que não foi nada disso, é só uma mania que humanizar tudo. Talvez a verdadeira humanização esteja em não humanizar tudo, perder essa mania de olhar tudo sob uma perspectiva humana. Não é fácil
Então, o segundo passarinho saiu voando também, e os dois começaram uma dança circular, um voando atrás do outro, que mais parecia um pequeno desentendimento, mas vai saber? Foi lindo, fiquei tentando adivinhar o que eles estavam fazendo, quando Deus de novo me deu um presente, e disse em meu ouvido, "eles estão vivendo"...
Eles estavam em uma revoada tão frenética que quase um deles entrou pela minha janela. Fiquei extasiada.
Olhei para baixo, e percebi que haviam outros pássaros na grama. Era realmente uma festa!

O João, jardineiro aqui do prédio, é a alegria dos pássaros. É ele quem corta a grama. Nesses dias, de comida farta e minhocas e insetos borbulhando na terra fresca, são que meus vizinhos passarinhos fazem a festa, numa espécie de dança circular.
Algo de realmente divino me encheu o corpo.

 






quinta-feira, 26 de agosto de 2010

relato sobre algo feliz


Depois de uma temporada de intenso frio, e pessoas já acostumadas com as tensões naturais do recolhimento, aquele dia de sol parece quase um acordar de profundo sono.
Nenhuma oportunidade seria tão cabida para refletir sobre a cooperação, do que essa. São momentos em que tudo conspira, coopera naturalmente.
Mas, para perceber o que cada momento nos trás em sua essência, há a escolha... a própria escolha de perceber, de ter consigo os remos e remar.
Remando para o Lar Rogate fomos, e para nos certificar ainda mais da natural cooperação, até encontramos ovelhas e um belo arborizado campo multicolor. Aquela voz suave nos diz, nem tudo é sonho, nem tudo é realidade...
Na cooperação, há dança, há cadeiras, a dança das cadeiras é a nova brincadeira, que não tira lugar de alguém, mas dispõe estar no seu lugar e ver...enxergar. Há lugar para todos, em qualquer lugar.
O campo arborizado lá fora, toca aqui dentro como numa sinfonia de harmoniosa cooperação, nos lembra ainda mais de que tudo está inter-ligado. O toque é o apelo do recém nascido, é o apelo do violão, é o apelo do teclado, é o apelo dos remos pelo mar, e do mar pelos remos. Ahh, isso sim é movimento.
Para onde se quer chegar, basta mais que apenas remar, basta apenas amar. E de amor somos. Feitos toque, visão, olfato, paladar e audição nessa dança cooperação que sussurra a existência do outro em mim, em ti, em nós.
O aqui dentro é. Lá fora, árvores balançam no ar, a circular na dança ancestral. Como circular é o vento de leva, e trás a chuva com a necessidade de remar mais. Segurar firme nos remos, os conservar. Ter consigo, A certeza, de que depois da tempestade é ela que sobra, é ela o que conservo na condição do destino, ser servo.
                                                                                              Texto para nosso encontro do curso de Cultura da Cooperação
www.coiris.com.br


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

inspiração devocional

Em todos os momentos em nossa vida, se dedicarmos nossos pensamentos em ideação a Suprema Consciência, estaremos praticando a devoção.
Se olharmos para fora através das janelas dos carros, se observarmos melhor o mundo em que estamos inseridos, veremos com o coração em que belo e lindo lugar escolhemos para viver. Imagino, e lembro-me também das aulas de geografia, quando o professor dizia das dimensões do nosso querido planeta. Desconsiderando o pensamento de que a vida surgiu na Terra, quando surgiu a primeira bactéria... a vida sempre existiu, a vida é Deus. A vida não começa a existir com bactérias, ou deixa de existir com a morte. Tudo é vida, Consciência Suprema.
Imaginemos então, quão grande pode ser a dimensão da vida, em que estamos inseridos e fazemos parte, e quão grande é esse planeta do qual fazemos parte, nossa querida Terra.
Gaia, assim como todo organismo, como tudo, que é orgânico, pois tudo que conhecemos veio de Gaia, sofre transformações, manifesta-se de inúmeras formas, assim como inúmeras são as possibilidades, e conseqüentemente essas transformações  refletem em nós, seres humanos e em tudo, pois somos um só.
Classificar como catástrofes essas transformações, é ter uma visão muito pessimista do nosso querido Planeta.
Realmente pode parecer muito triste estarmos a mercê das adversidades da vida na Terra, porém essa é uma ancestral verdade, da qual estamos a fugir com muito medo. Se não foi dessa forma que chegamos a construir verdadeiras fortalezas, a nos afastarmos da natureza, de nós mesmos, a sustentarmos a crença de uma segurança ilusória no dinheiro...
Quando nos vemos diante de fatos, como ondas gigantes, terremotos, que podem devastar estruturas inteiras como cidades, sentimos nossa incapacidade diante da grande força que há além de nós, e muito sensibilizados por aquelas pessoas que sofreram traumas e perdas. No momento seguinte queremos logo achar soluções para que tudo se acalme, para que a Natureza não tenha mais essas manifestações naturais.
A Natureza tem um poder muito grande, e ela se manifesta constantemente, pois como nós ela está em processo.
Devemos aceitar essa proporção. Aceitar que apesar de possuirmos faculdades diferentes dos outros animais, que nos permite avaliar nossa existência, não significa que somos superiores, e que adiante de nós há mais vida, com outras faculdades, inclusive a própria faculdade que nos criou.
Comparando a terra com um ovo, para termos uma noção, a crosta da terra, na qual construímos nossas estruturas, é como se fosse aquela película que fica embaixo da casca. Pois é, então qualquer coceirinha que a Terra dê, para nós gera uma "catástrofe".

Assim, devemos aceitar com amor o que a Terra nos dá, nossas meditações devem ser de comunhão com a Terra, com o Todo, e não devem ser estimuladas pelo medo de um fim. Tudo é vida, na vida.
NAMASKAR



segunda-feira, 22 de março de 2010

ao papel em branco


Quão perigoso, libertino e sagrado és tu, límpido, claro, receptivo e inocente papel em branco. Disposto a tudo, fulgaz e delicado. Nenhuma palavra adjetiva é capaz de rabiscar-lhe por inteiro e preencher-lhe por inteiro. Nenhuma palavra poderia sequer existir como tal, sem a gentileza de sua força. Assim igual brinca a boca à espera do beijo, querido papel em branco, brincas com minha'alma. És fonte de todo murmúrio e discórdia da classe humana. Aos seus pés ajoelham-se cleros, juizes, sábios, genios e suicidas. Em sua face pálida contém toda indiferença de um tapa ou de um afago. És cúmplice eterno da mente mundana, guardião interrupto até daquilo que nem ainda tem forma, nem vida. É de ti que nasce toda loucura e toda paz, é em ti que posso encontrar-me, somente aqui.E agora, como uma chave que liberta e aprisiona, tu selas eu em mim mesma e nunca, nunca me julgas.Paciente és tu. A espreita também do comodismo, alhiado da ignorância, porque teimas a querer dizer-me quem sou, como se eu não soubesse?Querido papel em branco, de ardente desejo é roubar-lhe a identidade, não suportar ver-te como és, tão fresco e profundo, de tanto amor que tenho por ti quero sempre marcar-te de mim. De que ainda nada digam minhas palavras, elas existem, e isso é tudo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010