sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Ser, mulher


Estava há algum tempo sem escrever. O ato de escrever é crucificador. É por no papel um pouco, ou muito de mim. Esse tempo de abstinência se deu por eu não querer mais ser crucificada. Escrever aquilo que pensamos, que sentimos é, simbolicamente, um ato de súplica. Desejar que alguém compreenda um pouco de nós. Uma forma de materializar, afirmar o que somos ou o que queremos ser. E todo esse tempo tenho fugido disso. Não quero mais a compreensão, o entendimento, não desejo mais afirmar minhas emoções, não quero ser aprisionada por palavras. No dia 07 de janeiro eu completei 20 anos nessa dimensão. Não que isso significa alguma coisa, mas signica muito. 20 anos de vida. Até ontem não tinha parado para analisar todos esses 20 anos como anos, como tempo. Anos como mulher. Fui a casa de um amigo, que há tempo não via. Ele mora com a irmã. Em algum momento senti vontade de ir ao banheiro. E fui. No banheiro, que fica no quarto da irmã eu me deparei com um cômodo tipicamente feminino, um banheiro tipicamente feminino. Tapetes cor de rosa, toalhas cor de rosa e branca. Muitas escovas, de todos os tipos, tamanhos, vários acessórios para maquiagem, bóbis para cabelo, secador, chapinha, cremes, prisilhas, amarradores e etc. E ali, fazendo xixi e observando todas aquilas coisas foi o momento em que refleti sobre meus 20 anos como mulher. No meu banheiro, ou no meu quarto não há nada disso. E sabemos que todo ser humano se questiona quando se compara à outro ser humano, e se dá conta das diferenças. Questionei minha feminilidade, a importânica que todos aqueles apetrechos tinham na minha vida. Eu nunca tive bóbis de cabelo, muito menos aquela quatidade de pincéis de maquiagem! Eu nunca me identifiquei com a cor rosa, cor de minina. Percebi que nada daquilo faz ou fez importância na minha vida, pelo menos depois dos meus 7 anos! E me libertei. Percebi que eu me comporto muito mais como um ser humano do que como uma mulher, uma minina. Percebi que eu não preciso de bóbis para ser quem eu sou. Que meu feminino se manisfesta de outras maneiras, mais interiores, como força feminina e não como forma feminina. Vendo tudo aquilo me dei conta que exatamente onde não há o esteriótipo feminino é onde mais se encontra a feminilidade. Na dureza, na força, na decisão, no suor, no vermelho e não no rosa. E assim como não escrevo mais esperando que minhas palavras se materializem, também não espero que "minha" mulher se materialize, que ela chegue nos meus 20, 25 ou 40 anos. Ela já está comigo. Eu simplismente a sou.